quinta-feira, 8 de novembro de 2007

NENHUM A MENOS

O professor de uma escola multiseriada de uma pequena aldeia chinesa chamada Shuiquan tem que se ausentar das aulas para cuidar de sua mãe doente. O presidente da aldeia, por falta de opção, escolhe uma garota de 13 anos chamada Wei Minzhi para substituí-lo nas atividades docentes. Tanto o professor quanto o presidente da aldeia advertem Wei que se ela deixar algum aluno abandonar a escola, deixará de receber seus honorários.
O diretor do filme, Zhang Yimou, ousou na forma de produzi-lo, pois os atores eram pessoas do próprio local, com perfil psicológico similar aos dos personagens e utilizando seus próprios nomes. A história se passa num local extremamente pobre da China, onde permanecer na escola é um grande desafio para as crianças e sua famílias, pois muitas acabam desistindo de estudar para trabalhar na cidade e ajudar na sobrevivência da família.
A instituição de ensino encontra-se numa situação precária, sem recursos, com as instalações prejudicadas por falta de investimento. Os alunos dormem na Escola juntamente com o professor. É um tipo de escola-casa em que as relações educacionais entre alunos e docente acontecem em tempo integral.
A adolescente Wei é pouco mais velha que muitos dos estudantes e se vê numa situação extremamente difícil, pois pouco tinha a oferecer aos seus alunos. Iniciou suas atividades num clima de conflitos e a única coisa que sabia fazer era transcrever textos na lousa para simples cópia.
Nesse ambiente hostil, a garota atravessa situações em que os estudantes colocam a prova sua autoridade e capacidade para lidar com aquele universo complexo. A grande preocupação de Wei era receber seu salário, pois ela se encontrava praticamente na mesma situação de seus alunos. A sobrevivência era o principal, nem que para isso tivesse que usar de autoritarismo.
Para desespero da garota um dos alunos abandona a Escola e vai trabalhar na cidade. Wei percebe que não será recompensada pelos serviços prestados. Decide então trazê-lo de volta a qualquer custo. Mas a situação é tão difícil que ela não tem dinheiro nem para pagar o ônibus até a cidade. É o momento que junto com os alunos, ela começa a traçar estratégias para conseguir o dinheiro da passagem para buscar o menino evadido.
Sua relação com os alunos sofre uma transformação, pois ao discutir as necessidades do grupo para trazer de volta o colega, suas aulas se tornam mais humanas e contextualizadas. Para conseguir o dinheiro eles terão que fazer cálculos do número de dias trabalhados em uma olaria carregando tijolos. É um momento muito especial do filme em que os alunos mostram-se muito interessados em ajudar a solucionar o problema da ausência do aluno. A matemática é o recurso essencial para traçar o plano de ação do grupo e conseguir a quantia necessária para que Wei vá até a cidade. Suas aulas se tornam maravilhosas e com significado.
A personagem de Wei passa por uma renovação atitudinal ao perceber qual é o sentido de trazer de volta um estudante para a escola. Os colegas do menino também sofrem uma transformação profunda quando percebem que existe alguém que se preocupa com eles, no caso a jovem professora.
Evitar que nenhum aluno saia da escola sempre foi o objetivo de Wei, no início por egoísmo, por sobrevivência, e agora por um ideal, por convicção de que a presença do garoto na escola importa muito aos colegas e a ela própria.
O ponto alto da história acontece na cidade, com a chegada de Wei em busca do menino perdido. É um momento em que o expectador compreende o verdadeiro papel de um educador, o esforço para oferecer educação a todos a qualquer custo.
Nenhum a menos é um filme que faz o expectador pensar sobre questões sociais e suas conseqüências na formação educacional das pessoas. Propõe a reflexão sobre o motivo que leva um educador a se envolver com seus alunos e a compreender o seu papel na instituição de ensino. Faz uma crítica aos governos que pouco investem em educação.
Emociona com uma história simples que no início pouco promete, mas que no decorrer envolve pela poesia e realidade colocadas frente a frente numa perspectiva humana renovadora.

Fábio Luiz de Souza, RA 06327860