quinta-feira, 8 de novembro de 2007

MENINOS NÃO CHORAM

Baseado numa história real, o filme de título original “Boys don’t cry” discute a relação que a sociedade americana estabelece com as questões relacionadas ao gênero, e com as opções sexuais não ortodoxas para os padrões conservadores daquele povo. Mostra claramente a criação de esteriótipos bem definidos para os meninos e meninas, fechando as portas para qualquer pessoa que fuja dessa condição. É nesse contexto que a personagem principal é inserida, mostrando como é difícil ser verdadeiro, quando a verdade não é aquela que todos querem ouvir.
Teena Brandon (interpretada por Hilary Swank) é uma garota que luta consigo mesma para assumir sua identidade homossexual. É criticada pela família e vive à margem da sociedade, tentando impor sua masculinidade atrás de roupas e apetrechos que a tornam parecida com um menino. Ela se auto denomina Brandon, um garoto de 21 anos e sonha em se tornar um homem igual aos que conhece, pois sua identidade sexual está dissociada do seu corpo real.
Vive cometendo pequenos delitos e brigando em bares com outros rapazes por causa de garotas. Imagina encontrar a parceira certa para viver seu grande amor, mas teme divulgar sua verdadeira imagem. Quase sempre aparenta ser o garoto durão, mas na maioria das vezes, mostra-se frágil e ingênua.
Depois de alguns erros cometidos em sua cidade natal, Lincoln, localizada no meio dos Estados Unidos, decide ir para Falls City onde encontra um grupo de amigos que desconhece sua verdadeira identidade. As circunstâncias colocam Brandon em um triângulo amoroso entre Lana (Chloë Sevigny), garota simples e que encontra-se infeliz com a vida que leva ao lado da mãe, e John (Peter Sarsgaard), o amigo boêmio e ex-detento.
Todas as pessoas de Falls City se encantam com Brandon e ele se torna um membro da turma de amigos, até descobrirem a sua verdadeira identidade. Lana sente-se atraída pelas atitudes de Brandon, pois provavelmente nunca tenha sido tão amada e desejada por outra pessoa como acontece nesse momento. Sente-se confusa ao saber que Brandon é Teena Brandon, uma mulher. Mas já está envolvida na situação e completamente apaixonada. A relação de Lara e Brandon é muito mais emocional do que sexual, existe um pacto de lealdade e cumplicidade que as atrai. Sexualmente, o relacionamento das duas é intenso, pois a grande preocupação de Brandon e fazer Lana sentir prazer. Não existe egoísmo ou hierarquia, só existe amor.
John não suporta ser trocado por uma mulher e dá início a uma série de ações para desmascarar Brandon frente à cidade e aos amigos. A mãe de Lara também fica contra a relação das duas e tenta separá-las. A violência contra Teena Brandon é a maneira com que aquela sociedade demonstra o repúdio pelo homossexualismo.
John mata Teena Brandon para mostrar como a maioria das pessoas lida com as diferenças: exterminando aquilo que foge dos padrões de normalidade impostos pela sociedade hipócrita e sem princípios éticos de respeito à vida.
Mas a morte de Brandon não é o fim. É o começo da nova vida de Lana, que não desistiu de seguir seu caminho longe daquela cidade que a aprisionava. Ela aprendeu com Teena (e principalmente com Brandon) que a verdadeira identidade humana não é plausível de rótulos ou de regras.

Fábio Luiz de Souza, RA 06327860