Quinta-feira, 1 de Novembro de 2007
O Trabalho de Grupo
Como Trabalhar com os "Diferentes" - Ana Lúcia Amaral
Introdução
Ao longo da vida de educadores ouvimos muitos comentários preconceituosos tais como " Este aqui é o grupo das crianças difíceis da turma" ou ainda "como outros alunos de meio social mais baixo, ele tem muita dificuldade com abstrações...".Há uma crença generalizada de que somente um tipo de inteligência, e ou se é inteligente, ou não é.Porém há muitos anos a psicologia lidou com o conceito de inteligências múltiplas, ou "faculdades mentais", ou seja, tomando por base esses estudos, concluímos que crianças e jovens diferem entre si.Assim, devemos atacar nossos problemas educacionais na base, ou seja, nas salas de aula. E uma das possíveis soluções paralidar com os grupos heterogêneos de crianças e jovens que estão presentes nas escolas é o trabalho de grupo, assunto que será abordado a partir de agora.
O Trabalho de Grupo: Concepção e origem.
O trabalho em grupo tem como finalidade promover a aprendizagem de determinados conteúdos, sejam eles de natureza cognitiva, afetiva ou social, e complementam simultaneamente as diferentes dimensões de aprendizagem baseados no trabalho coletivo.
Essa técnica aparece nos conceitos da Escola Nova, que confrontam os fundamentos básicos do ensino tradicional, provocando uma mudança de eixo do Ensino para a Aprendizagem.
Nos anos 40 e 50, os grupos eram homogêneos, inclusive eram aplicados testes que separavam os alunos por sua capacidade. Os grupos de trabalham tiravam o foco da aula no professor e dinamizava o ensino; as tarefas eram divididas entre os proprios alunos nos grupos e assim o conhecimento era construído entre eles, por isso, viam a importância na segmentação dos alunos. Esse trabalho foi utilizado, então, como uma técnica que proporcionava a vivência da democracia e a compreensão de que fosse o regime democrático proposto por esse modelo de ensino.
No fim da década de 60 e começo da 70, uma nova corrente vinha contra à “predestinação” imposta pelos teste de inteligência, afinal, a aprendizagem não é um atributo, mas um processo que deve ser desenvolvido via trabalho escolar.
Há uma transformação na idéia do coletivo, onde agora a individualização é levada em conta. Agora, técnicas coletivas são substituídas por caminhos que cada estudante percorre sozinho, respeitando o seu próprio ritmo de aprendizagem.
Trabalho de grupo hoje: Uma técnica em debate ou uma técnica a serviço das diferenças?
Atualmente o trabalho desenvolvido na escola pública, por sua própria natureza, é realizado com turmas heterogêneas. A homogeneização de turmas foi se revelando um mito, e as diferenças se tornando, como é cada vez mais presente, sendo estas, não só de nível intelectual, bem como de caráter socioeconômico, à constituição, ao modo de vida familiar, aos valores, crenças, etc. Isso nos reporta à pedagogia das diferenças (Perrenoud 2000). A opção por esta pedagogia leva-nos a diferentes resultados e ao acompanhamento individualizado, ou seja, avaliação formativa.Identificada as dificuldades individuais, uma ótima estratégia de ensino é a formação de grupos de trabalho ou o Trabalho de Grupo. Muitas são as discussões a respeito das vantagens e desvantagens em se trabalhar com grupos homogêneos. Verifica-se, no entanto, que as vantagens em se trabalhar com grupos heterogêneos são maiores, pois a presença de estudantes mais hábeis serve de estímulo aos alunos mais fracos, promove a cooperação, evita a estigmatização e promove o esclarecimento das idéias dos alunos mais dotados, quando estes auxiliam os outros. Um dos grandes defensores da organização de grupos heterogêneos é Henry Levin, o qual aposta na auto-estima dos alunos, pois assim, promove-se a participação, confiança e produtividade dos alunos. Verifica-se, portanto, o importante papel dos professores e colegas mais experientes, no complexo processo de aprendizagem.
Aprendizagem Dinâmica de Henry Levin
Henry Levin é um dos defensores da organização de classes e grupos heterogêneos. A aprendizagem dinâmica para ele é indispensável no desenvolvimento escolar porque faz com que as crianças compreendam melhor suas próprias idéias, tanto no mundo acadêmico como nas suas próprias emoções e faz também um autoconhecimento das suas habilidades notáveis.Além disso, a dinâmica por ser mais descontraída e divertida, faz com que o conhecimento adquirido se fixe na memória da criança para sempre.Esse tipo de aprendizagem é tanto individual como coletivo, pois cada um precisa mostrar seu conhecimento para solucionar a atividade proposta.
O trabalho de grupo diversificado e a aprendizagem cooperativa
Cohen, que é um teórico que estuda sobre trabalhos de grupo, define: Trabalho de Grupo- alunos trabalhando juntos onde todos participem de uma tarefa que foi especificada, sem supervisão direta do professor. Este trabalho de grupo difere-se do chamado Grupo de Habilidades onde o professor divide a sala em grupos mais homogêneos, alunos com habilidades parecidas, e se difere também dos grupos de instrução intensiva, com alunos que se unem com o propósito de tirar dúvidas, ou seja, grupos onde os alunos têm mais coisas em comum, sejam pelas suas habilidades ou dificuldades. Mas, neste caso, estamos falando de trabalho em grupo de uma maneira diferente, porque são pequenos grupos heterogêneos que são formações para solução de tarefas propostas, com delegação de autoridade, onde cada integrante ficará responsável por partes específicas do trabalho, porém o resultado final será avaliado pelo professor.Todo processo é decidido pelos alunos, cabendo aos mais aptos auxiliar aqueles com maior dificuldade, pois se trata de um grupo heterogêneo, onde as habilidades e as dificuldades não são requisitos para a formação do grupo.Cohen levanta dois pontos neste tipo de trabalho em grupo:1) Delegar tarefas não significa perder o controle da aprendizagem: o professor mantém o controle por meio da apreciação final de trabalho, pois se a fiscalização do professor for feita constantemente, os alunos se dirigirão a ele e não uns com os outros.2) Os alunos devem depender uns dos outros para realizar a tarefa: os alunos não devem fazer tudo sozinhos, neste ponto o professor pode sugerir algumas dicas, como exemplo, que os integrantes ouçam uns aos outros, resolvendo juntos como fazer o trabalho diante das limitações de recursos. Os alunos perceberão que o sucesso do grupo depende da dedicação de cada um, assim o “espírito de grupo” toma conta dos alunos.
Tudo leva a crer que o grupo é maior do que a soma de suas partes.Quando se trabalha com um problema que não tem uma resposta óbvia ou um padrão único de solução, o grupo pode ser mais eficiente do que qualquer membro individual. Hoje os problemas enfrentados no trabalho requerem criatividade, e nem todos tem habilidade nessa área. Os currículos brasileiros acabam exigindo muita memorização, e pouca criatividade. Um dos grandes suportes teóricos da pesquisa desenvolvida por Cohen relaciona-se à questão do status no grupo. Alunos com baixo status tentem a participar menos das aulas. O grupo funciona para dissolver os preconceitos entre alunos, fazendo com que todos trabalhem juntos, levando em conta: a) a atribuição de tarefas que exijam diferentes tipos de habilidade – daí a necessidade de um currículo amplo e diversificado; b) a atribuição de papéis que são mudados a cada tarefa, permitindo que cada estudante desempenhe diferente papel a cada trabalho. Em relação aos conteúdos, os grupos funcionam muito bem resolvendo tarefas de solução complexa. É importante que o professor disponibilize materiais adequados a cada tarefa.
O trabalho com grupos (supostamente) homogêneos
Slavin acredita que trabalhar com a idéia de grupo homogêneo é válido quando existem algumas diferenças de níveis de aprendizagem. E quando ocorrem estes casos o professor deverá considerar as dificuldades de cada grupo, criando atividades específicas, com materiais adequados e monitoramento suficiente para dar o suporte necessário. Isto também pode ser feito quando as dificuldades se encontram em diferentes disciplinas. E em todas as situações é muito importante que haja sensibilidade e percepção do docente para detectar o tipo de problema que ocorre com os alunos.Há momentos em que as diferenças não importam, como por exemplo, quando a classe vai assistir a uma peça de teatro. A classe pode se reunir e enriquecer uma discussão em cima do tema proposto, beneficiando cada um com diferentes visões e experiências vividas.Retomando a questão da diferença de níveis, pode-se optar por diversificar os grupos, fundindo dois ou mais grupos e neste há possibilidade de uma coordenação monitorada por um aluno com um bom desempenho na área avaliada, sem dispensar a supervisão geral do professor.
A título de conclusão
O trabalho de grupo é uma técnica que produz excelentes resultados em qualquer disciplina e/ou qualquer nível de ensino, já que o importante é que seja bem planejado, bem orientado e bem avaliado, e que seus objetivos fiquem bem claros para os participantes. Discorremos sobre a possibilidade de formação de grupos heterogêneos ou homogêneos, dado que a formação de grupos homogêneos carrega a possibilidade de estigmatização e/ou baixas expectativas, sendo assim, seria interessante que a escola pública estivesse apta a trabalhar com classes/grupos heterogêneos, mantendo-se democrática e promotora da eqüidade e da inclusão escolar e social.
(Leandro Centofante/Aline Martinelli/ Rhelga Junqueira/Isabela Gagliardi/Bruno Maiorini/Cyro Dias Neto/Patricia Sponhardi/ Lucila Klaussner/ Fernanda)